Entrevista: Stanccione segue fiel à sua identidade em novo EP, Quintana

Entrevista: Stanccione segue fiel à sua identidade em novo EP, Quintana

Disco chegou na sexta (20) com assinatura da Cocada Music e remixes de Jimpster e Leo Janeiro & Ossaim.

via Assessoria de Imprensa

Existe um limite para a criatividade? Como dar vida a novas criações com a própria identidade? Num mercado onde a saturação está cada vez mais presente, inovar e entregar trabalhos com DNA tem se tornado fundamental. Fórmulas prontas podem até funcionar para alguns, mas a verdade é que músicas que carregam a expressão individual do artista possuem um toque especial.

Caio Stanccione é um ótimo exemplo. Ele até tentou por um período da vida fazer algo mais “comercial”, mas percebeu que aquele não era o seu “eu” verdadeiro. Voltou atrás e seguiu firme com seus ideais, criando músicas que realmente eram compatíveis com o seu perfil. Hoje em dia, ele está longe de ser um superstar, mas acumula uma riqueza de musicalidade e espírito que é 100% verdadeira.

Isso encontra-se no seu mais novo trabalho com a assinatura da Cocada Music, label que começou com a realização de eventos e hoje tornou-se uma gravadora comandada por ninguém menos que Leo Janeiro e Roland Leesker (Get Physical). Quintana EP é o segundo release do Cocada e chega com duas originais de Stanccione e remixes de Jimpster e Leo Janeiro & Ossaim da faixa-título, um trabalho completo com diferentes abordagens sonoras que mistura música e poesia.

Abaixo você ouve o lançamento e confere o bate-papo que tivemos com Caio Stanccione:

DJ MAG BRASIL: Olá, Caio! Tudo bem? Obrigado por falar com a gente! Vamos começar falando do seu novo EP. Quintana tem duas faixas originais suas. Na faixa-título, além da poesia “O Tempo”, percebemos a presença de instrumentos brasileiros fazendo parte da construção. Existe alguma curiosidade sobre o processo de produção que você poderia compartilhar com a gente?
Olá, Por aqui tudo ótimo! Eu que agradeço o convite, adoro conversar sobre música!

Olha, é algo que eu não forço, você não é a primeira pessoa que me diz sobre eu priorizar elementos brasileiros nas minhas músicas, mas eu entendo que priorizo instrumentos de verdade ou algo que soe muito próximo a isso. Meu gosto musical sempre vai me levar para coisas que reverberam de uma forma natural e que de fato tenha um humano atrás executando e não somente a máquina. Tudo que tenha uma tonalidade agressiva demais, seja em timbre, evolução ou arranjo eu acabo perdendo interesse rapidamente.

Não diria que é uma curiosidade, mas em 90% das minhas criações, eu começo por extrair trechos de outras músicas que tenho aqui em acervo. Quintana tem um pequeno trecho de um Baião de Luiz Gonzaga, ele vem desde os primeiros segundos de música e vai até o final, é o que faz sustentação na música. Já na Another House Track, nenhum disco foi sampleado, os synths foram tirados em um Korg M1 versão Plug-In e o elemento mais expressivo da música que é o trompete, eu achei em um pack de samples para Free Jazz.
DJ MAG BRASIL: Legal! A faixa que dá nome ao disco ainda recebeu remixes de Jimpster e de Leo Janeiro com Ossaim. Quais são suas impressões das versões entregues por cada um deles?
Antes de falar como Stanccione, preciso falar como quem ama House Music. Quando eu soube que o Jimpster remixaria um trabalho meu, ou seja, ouviu e gostou do que foi ouvido, bem… eu risquei um item do meu checklist de metas. Ele é um desses artistas que conseguiu respeito nos dois lados do business, já foi referência se ainda não for para qualquer amante da House Music vinda da Europa… enfim, é o Jimpster. Remixando uma música minha!!!

A mesma euforia veio acompanhada com a notícia do Filhão e Ossaim remixando, que fiquei sabendo bem depois. Um dia qualquer, o Leo me chamou no Whatsapp e mandou o remix prontinho! E lá se vai mais um item do checklist riscado, rs. Jimpster deu aquela atmosfera Deep House que só ele faz, é um remix que tem a cara dele. Já o Leo e Ossaim partiram para uma reorganização do arranjo e mixagem, algo que aproximasse mais do que eles sentem e visam em pista, o que acabou tornando a versão deles de Quintana super dançável!

Acho demais quando alguém consegue desenvolver algo em cima do que eu fiz, é a sensação de dever cumprido na forma mais pura.
Cocada - Quintana EP
DJ MAG BRASIL: Falando um pouco sobre sua história… você vem de uma família de músicos, certo? Pode abrir o leque e contar mais detalhes pra gente sobre isso? Como foi crescer nesse ambiente?
Certíssimo, meu pai é baixista e ele continua a tocar mesmo depois de, sei lá, quarenta anos! Agora ele está em uma banda que faz covers do Rock Nacional dos anos oitenta, um dos meus irmãos também é baixista, porém ele seguiu o caminho do Jazz e Bossa Nova.

Desde que eu me lembro, em casa sempre houve música, não sei se a minha memória gravou os momentos que a música estava presente ou se de fato em quase todo momento tinha música tocando, mas é a lembrança que eu carrego.

Cresci vendo MTV, ouvindo discos do Rolling Stones, Led Zeppelin, Raul Seixas e Marcelo Nova ou cantando Legião Urbana durante viagens com meus pais. São memórias muito vivas em mim e que com certeza me estimularam a querer ser e fazer o que faço hoje.
Stanccione em 2010 na Hot Hot - SP
DJ MAG BRASIL: Ótimas referências, sem dúvidas! E o que fez você acreditar na carreira de DJ? Lembras quando e como essa decisão foi tomada?
Durante a pré adolescência eu tinha uma pontinha de frustração por não conseguir tocar nenhum instrumento. Ainda não consigo, rs. Meus amigos do colégio formavam bandas e eu me sentia deslocado por não conseguir fazer parte daquilo, eu queria muito, mas sem saber tocar, era impossível.

Um belo dia, um amigo meu me disse que a prefeitura de São Bernardo do Campo, cidade que moro até hoje, tinha inaugurado uma oficina onde oferecia vários cursos livres de forma gratuita para quem fosse residente daqui e um deles era o de DJ. Topei na hora, lembro que por influência de desse mesmo amigo, eu já ouvia coisas como Prodigy, Chemical Brothers, Crystal Method, Anderson Noise, DJ Marky… fiquei empolgado com a ideia de aprender a discotecar.

Lembro quando eu fiquei de frente para os toca-discos pela primeira vez na minha vida e o instrutor após uma brevíssima explicação me disse para tentar. Óbvio que deu tudo errado, mas a sensação que eu tive aquele dia em colocar a mão nos toca-discos e mixer, é a sensação que carrego comigo até hoje, foi exatamente ali que eu sabia o que eu queria ser para o resto da minha vida.
Stanccione (2)
DJ MAG BRASIL: Nós que agradecemos por essa descoberta! Você disse uma vez que suas tracks são reflexos da sua personalidade. O que você cria depende muito do seu humor do momento?
Acho que é impossível você criar algo verdadeiro sem depender de como você se sente, meu estado de espírito influencia muito no resultado final de uma composição. Gosto de colocar em minhas músicas o que eu não consigo dizer com palavras, é blasé, eu sei, mas esse é outro grande motivo de eu ter aceitado e insistido na vida musical, através dela eu consigo ser o mais sincero e transparente possível, o que com palavras eu talvez não consiga ou tenha coragem. Sem música eu sou só mais um cara tímido e que gagueja, com a música toda essa muralha cai e me mostro como sou.


DJ MAG BRASIL: E produzir coisas fora do óbvio também é uma “filosofia de trabalho” que você mantém? Quais os segredos para fugir de fórmulas “prontas” e chegar em resultados realmente especiais?
Não é uma “filosofia de trabalho” que mantenho porque o fora do óbvio é o que eu realmente gosto, sabe? Eu tive um momento difícil profissionalmente falando, onde tentei fazer algo que eu julgo “mais vendável” como “techno melódico” pelo alcance que tem. Eu até cheguei lançar essas músicas há uns anos atrás e obviamente não foi pra frente, não era eu. Não deu certo.

Lembro de ter mostrado essas faixas de “techno” para o Kaká Franco e HNQO e ambos não entenderam nada, o Henrique ainda me disse algo como: ‘Agora você quer ser o Guy J? Você não é o Guy J’.

O segredo para fugir da fórmula pronta? Ora, você já respondeu dentro da pergunta, fuja da fórmula pronta! Não copie. Quando um artista conquista certa notoriedade, é natural que os que acompanham o mesmo nicho, vão se espelhar no trabalho dele com o intuito de ter o mesmo reconhecimento, mas aí, essas pessoas vão ser as que fazem música “tipo” aquele artista. Nada mais frustrante do que ouvir alguém falar que faz um som “tipo” DJ X ou Label Y. Música é sobre se expressar, e cada um tem sua forma de se expressar, é algo totalmente singular.

Seja você mesmo, use sonoridades que você julga interessante e que te cativam e lembre-se de pegar tudo isso e ser “DJ Friendly” na hora de construir uma música, afinal, de nada vale uma música que só você se interessará em tocar.
DJ MAG BRASIL: Concordamos 100%! Por fim, para onde o futuro de Caio Stanccione aponta? Quais as novidades que estão por vir? Obrigado!
Eu queria muito contar algumas novidades, queria mesmo, mas devido a situação que nós vivemos no momento, tudo é uma incerteza e para não corrermos o risco de ter que me retratar por alimentar algo que pode não mais se concretizar, prefiro não dar nenhuma luz. Posso dizer que vou estar em meu estúdio durante esse tempo sombrio fazendo o que mais gosto de fazer, música. Agradeço pelo convite, um beijo!


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