Uma família do Distrito Federal está em busca do rim de uma parente que morreu no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), em 31 de março. Segundo o relato compartilhado pelo Metrópoles neste domingo (2), Emídia Nunes Chavante Oliveira, de 74 anos, não era doadora de órgãos.

De acordo com os familiares da senhora, Emídia foi atendida no HRT no dia 27 de março depois de reclamar de enjoo, tontura e dores na barriga e nas costas. Três dias depois, ela foi internada e passou por uma tomografia. O exame, além de mostrar que a mulher tinha os “rins tópicos, de contornos, dimensões e atenuações habituais”, também detectou acúmulo de líquido no abdome e na pelve.

No dia 31 de março, no entanto, a idosa sofreu duas paradas cardíacas e veio a óbito às 02h17. Os parentes falaram que o hospital declarou a causa da morte como infecção urinária. A certidão de óbito, entretanto, definiu que Emídia faleceu de “peritonite aguda fibrino purulenta, devido a diverticulite perfurada de colo sigmóide, em portador de hipertensão arterial e diabete melito”, uma forma de infecção causada pelo acúmulo de fezes e urina na região abdominal.

Sumiço do rim

Com a morte, a família fez um pedido de necropsia à Secretaria de Saúde mas disse que os funcionários da instituição insinuaram que ela foi vítima de Covid, o que impediria a análise. Apenas no dia 2 de abril eles conseguiram a liberação do exame, que comprovou a ausência de um rim na mulher.

Já que Emídia não era doadora de órgãos e os responsáveis por ela não foram procurados para a possibilidade, eles decidiram registrar uma ocorrência na Polícia Civil e solicitar explicações da Secretaria de Saúde. A família ainda desconfia de que as córneas da mulher também tenham sumido devido a uma suposta movimentação na Central Estadual de Transplante: “CIHDOTT-Comissão intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos a Transplantes. Acesso prontuário para confecção de relatório da CIHDOTT e encaminho a NOPO-DF”.

Família se manifesta

Os filhos de Emídia estão revoltados pela falta de respostas. Gidália Nunes Oliveira, de 48 anos, pede que providências sejam tomadas. “Nossa mãe entrou com os dois rins no hospital. Onde está o outro rim dela? Nós queremos Justiça. Não queremos que isso aconteça com outras pessoas”, lamentou. O irmão dela, Josué Nunes de Oliveira, de 42 anos, se mostrou preocupado com o destino do órgão. “A gente não sabe o que foi feito com o órgão dela. E se foi para algum ritual? Se foi para ser vendido? E se estão fazendo isso com outras pessoas? Se estão deixando as coisas acontecerem para fazer esse tipo de coisa? Porque o ser humano é perverso”, disse.

“É um descaso com o corpo, sem falar de vilipendio. É grave. É um crime invisível. Se a família não tivesse aceito a necropsia, o que teria sido feito desse corpo?”, apontou o advogado Kenneth Chavante. Ele acrescentou que houve negligência na forma como a mulher foi tratada no hospital: “Os exames apontaram que a paciente tinha uma decadência da saúde. Mas não se atentaram aos líquidos soltos dentro da barriga, da pelve. Então haveria a possibilidade de tratá-la, fazer toda a assepsia, a limpeza, e tentar salvar a vida dela”.

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Secretaria de Saúde comenta caso

Em nota ao Metrópoles, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal afirmou que “a hipótese levantada é de que possa ter ocorrido uma atrofia do órgão devido a um processo infeccioso, comum em pacientes diabéticos com histórico de infecção do trato urinário, o que pode levar à diminuição de volume do rim”. Segundo a instituição, “não houve sinais de extração do órgão, o que foi confirmado pela ausência de cicatrizes ou evidências cirúrgicas no período da internação, sendo o caso objeto de um inquérito policial que vai apurar o ocorrido”.

Eles acrescentaram que “a captação de órgãos no Brasil, incluindo rins, só é permitida a partir de um diagnóstico de morte encefálica, o que não foi o caso da senhora Emídia”. “A pasta destaca que, tal captação é realizada exclusivamente no Hospital de Base e no Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICTDF), e em nenhum momento a paciente foi transferida para essas unidades”, completou.

Por fim, a Secretaria de Saúde disse que as córneas de Emídia só poderiam ser retiradas caso existisse autorização formal da família (até 2º grau), mediante a assinatura do Termo de Autorização para Doação de Órgãos e Tecidos, com a assinatura de duas testemunhas. Conforme verificação no Sistema Nacional de Transplantes (SNT), a paciente não estava registrada como doadora de órgãos ou córneas. “A SES destaca que, devido ao quadro clínico da paciente, ela não seria elegível para doação, e por isso, não houve abordagem à família nem captação de órgãos ou tecidos”, finalizou.



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