DJ Meme apresenta seu novo single “Jazz Carnival” com o músico e compositor Marcos Valle

DJ Meme apresenta seu novo single “Jazz Carnival” com o músico e compositor Marcos Valle

Confira a entrevista onde DJ Meme fala sobre seu novo trabalho, sobre futuros projetos e o momento atual que estamos vivendo.

por Rodrigo Rodríguez

Conversamos com Marcello Mansur, o DJ Meme, sobre seu novo trabalho, “Jazz Carnival”. A música é uma parceria com Marcos Valle, um dos artistas mais consagrados da música popular brasileira, que saiu na última semana pelo selo Peppermint Jam, que pertence ao DJ e produtor Mousse T.

“Jazz Carnival” é uma regravação de um dos maiores sucessos da banda brasileira Azymuth, que faz parte de seu álbum “Light as a Feather”, de 1979. A banda foi formada em 1973 no Rio de Janeiro, suas músicas são praticamente todas instrumentais e apresentam sonoridades que mesclam entre o samba até o funk, numa espécie de jazz fusion.

O novo single de Meme e Marcos Valle entrou como um dos destaques do portal Traxsource, eleito pelos editores como um dos ‘Weekend Weapons’ da semana, além da faixa já ter alcançado o 19o lugar no chart do gênero house do site assim que foi lançada.
Ouça no Spotify:

Compre a faixa no Traxsource:

Considerado o “pai da house music no Brasil”, DJ Meme apresenta essa nova produção onde são nítidas todo o tempo diversas influências brasileiras, assim como suas principais características musicais como artista e produtor. Meme é responsável pela produção de álbuns e grandes hits da música popular brasileira. Entre eles, os de artistas como Lulu Santos, Fernanda Abreu, Gabriel O Pensador e Kid Abelha, além de ter produzido remixes para Rita Lee, Tim Maia, Roberto Carlos, Daniela Mercury, Mahmundi, Silva e Anitta, entre muitos outros.

Entre os artistas internacionais, DJ Meme produziu remixes para David Penn, Dimitri From Paris, Joey Negro & The Sunburst Band, Jamie Lewis, Marc Evans e para a banda de acid jazz Incognito. Além desses, quem não lembra os clássicos remixes para “Estoy Aqui” da Shakira e para “Butterfly” da Mariah Carey? E também as incríveis versões para “The Cure And The Cause” de Fish Go Deep, “I Shall Not Be Moved”, de Underground Ministries e para a belíssima “The Ones You Love”, de Frankie Knuckles (o pai da house music no mundo) e The Shapeshifters – esses três eu sempre o via tocar numa festa semanal que ele se apresentava, num club no Rio que eu fui DJ residente na época.

Meme lançou também músicas sensacionais como “Any Love”, “Love Is You”, “Milagro”, “Fall To Raise Up” e um dos principais hits de sua carreira, “The Sun Is Coming Out (Chanson Du Soleil)”. São incontáveis as gigs dele que já estive presente em várias partes do Brasil e também as diversas tentativas de levá-lo até o bairro onde moro, que segundo ele, por ser quase em outra divisa, nunca se deve pronunciar o nome (risos).

Confiram abaixo a entrevista, onde ele conta toda a ideia e processo de criação de “Jazz Carnival”, e fala um pouco também sobre a cena eletrônica no Brasil, sobre os novos artistas da música popular brasileira e o momento delicado que estamos vivendo no país e no mercado musical com essa pandemia:
DJ MAG BRASIL: Meme, em primeiro lugar, é um grande prazer fazer essa entrevista com você e saber um pouco mais sobre os seus projetos. Na última semana você lançou “Jazz Carnival”, uma produção de house com o Marcos Valle. Como surgiu a ideia para a produção, a parceria e o processo de criação?
“Jazz Carnival” é uma regravação da banda Azymuth, e é um dos seus maiores sucessos. Até a banda Jamiroquai a toca em shows. Eu sempre gostei da banda Azymuth. SEMPRE!


Quando aos 11 anos de idade comecei a me interessar seriamente por música e colecionar discos, lembro-me bem de quem o primeiro disco que eu pedi para comprar com a minha mesada foi uma trilha de novela da Globo que continha a musica deles, “Vôo Sobre o Horizonte”, um grande hit. Mais tarde em 79 eles viriam a regravar essa mesma música em outra versão num álbum completamente jazz-samba pelo selo americano Fantasy. Nesse momento os caras já tinham reconhecimento internacional e deixaram as músicas de novela de lado. Esse disco trazia também a faixa ‘disco underground’ “Jazz Carnival”, que me chamou a atenção pela linha de baixo hipnótica furiosamente tocada ao longo de 10:39 minutos de música.

Como na época não havia internet, somente mais tarde eu fui descobrir que o mesmo sentimento que me atraiu em “Jazz Carnival” também chamou a atenção de milhões de DJs nerds do mundo todo, e a faixa virou então um hit entre os fãs do Azymuth, os DJs em geral, colecionadores e conhecedores de música desse planeta. Inicialmente eu sonhava em fazer um remix dela, mas como é uma musica muito complexa e eu ainda não tinha experiência para tal, deixei a ideia de lado.

Corta para os tempos atuais. Em 2016, em meio a minha temporada de verão anual na europa, toquei num club em Taranto na Italia que infelizmente encerrava a noite sempre as 4 da manhã, e como o público estava ainda mega animado, o promoter nos arrastou dali para o Sound Department, um club fantástico de ‘after-hours’ que abria as portas as 4 da manhã e fechava ao meio-dia. A idéia foi excelente e veio a calhar. Quando o dia amanheceu as 5:30 da manhã, o raio do DJ lascou o “Jazz Carnival” do nada, e eu fiquei com aquela cara de tacho vendo todo mundo com as mãos pra cima se jogando numa música tão nossa, e que eu mesmo nunca havia visto alguém tocar no Brasil. Foi um choque de realidade e aquilo nao saiu da minha cabeça.

No ano seguinte, em 2017, eu resolvi fazer um álbum de musica brasileira (ainda não lançado) e pedi uma música inédita para o Marcos Valle, que eu havia conhecido em 2003 numa gravação. Marcos é um verdadeiro ícone da musica brasileira desde os anos 60 e que tem a rara habilidade de se renovar ao longo do tempo como ninguém, colecionando parcerias diversas e sendo sampleado por Jay-Z a Kanye West. Marcos Valle é talvez o nosso compositor mais conhecido no exterior ao lado de Tom Jobim. Acho difícil alguem que nao tenha escutado ao menos uma música dele, como ‘Estrelar” (Tem correr, tem que malhar, tem que suar…vamos lá) ou basta chegar ao final do ano e você já ouve na Globo: “Hoje é um novo dia, um novo tempo…hoje a festa é sua, é de quem quiser, quem vier”. Pois é. Ele estaá na sua vida desde sempre e você não sabia.

Quando Marcos mandou a demo da tal música nova, Lulu Santos ofereceu-se para fazer a letra. Porra, um time desses se formando na minha frente… me deu um estalo: “Vou chamar o Azymuth para gravar com eles!!!”, e esse foi o meu primeiro contato com Alex Malheiros e Ivan Conti “Mamão”, os integrantes remanescentes do Azymuth..

Eu cheguei a pensar em regravar “Jazz Carnival” nesse álbum, mas o disco é de músicas inéditas e todo gravado com instrumentos acústicos e elétricos. Não caberia o que eu queria fazer, e foi aí então que o destino aconteceu: um amigo que estava postando uma música por dia instagram, postou a capa e o disco do “Jazz Carnival” rodando em video, e eu disse: “CHEGA, VOU COMEÇAR HOJE!”. Sendo assim, dei inicio ao estudo da música, usando partes de bateria que o Ivan Conti do Azymuth gravou no meu álbum. Logo em seguida, chamei o meu filho Daniel Mansur para gravar o baixo, missão que ele assumiu com elegância e a devida fúria. E pra rechear chamei Jorjão Barreto, ex-integrante da banda Black Rio para gravar o piano elétrico. Fiquei com aquilo rodando meses no estúdio e adicionando percussões, trocando coisas de lugar, mexendo na música, mas não saía de um looping bonito que não levava a nada. Um dia, Marcos Valle foi ao meu estúdio para gravarmos algo e ao final eu mostrei a ele o que eu já tinha do “Jazz Carnival”, dizendo que eu adoraria que ele fizesse solos de teclado, e ele prontamente atendeu e disse: “Liga o orgão aí”. Quando ele tocou a parte que você ouve na faixa, a música comecou a fazer sentido e tomar forma. Ele foi o estopim que faltava, e o resto será história escrita aqui.
vale
DJ MAG BRASIL: Você vai lançar em breve um álbum acústico voltado para a música brasileira. Como será esse álbum e quando ele será lançado?
DJ Meme – O disco está supostamente pronto, maaaaas… você já deve ter escutado que “disco a gente não termina. Abandona“. Eu fico remoendo, mudando, mixando de novo, até achar que está no ponto…e nunca acaba. É um disco somente de música brasileira com estética sonora da décadas de 60 e 70, que foram anos muito ricos do ponto de vista de composições, arranjos e sonoridade. Há Jazz, Soul, Boogie, Bossa Nova, Disco e até ‘iê-iê-iê’. É o primeiro trabalho de toda a minha vida que tem 100% de aprovação de quem escutou, e todos saem do estúdio com a mesma cara, por isso a responsa é grande. Quando estiver pronto eu aviso :-)
DJ MAG BRASIL: E você está planejando outros lançamentos além desse álbum para 2020?
DJ Meme – Músicas vão sendo criadas constantemente, mas esse ano atípico que ninguém sabe como vai acabar, atrapalha qualquer plano. Tenho ido ao estúdio a cada 2 dias e criado várias faixas. Não há datas, mas a inspiração não para. Há algumas coisas de música brasileira no forno. Em breve eu conto.
DJ MAG BRASIL: Como você está acompanhando a evolução do mercado nacional da música eletrônica de alguns anos pra cá?
DJ Meme – Tenho sentimento ambíguo em relação ao que vejo. Dá gosto ver que pela primeira vez em toda a história de música eletrônica no Brasil os DJs conseguiram produzir uma música própria com a cara e aceitação do publico brasileiro. Mas ao mesmo tempo vejo que esses mesmo artistas não botam a coragem à prova para evoluir no som (como acontece em qualquer gênero) por medo de arriscar e perderem o que já tem. A cena tornou-se pura competição. Vale lembrar que o EDM diminuiu de tamanho pela mesma razão. Atenção galera!
DJ MAG BRASIL: Quais os artistas que têm chamado sua atenção hoje em dia no Brasil e no exterior?
No Brasil sou fã incondicional há anos do Fancy Inc. Gosto do som deles, das músicas e das idéias fora da curva. Fora do país, o The Vision tem levado minha atenção. Uma banda que mistura o conceito de estrutura da música de pista com sonoridade de banda e conquistou todos os gêneros de DJs por ai.

©2019 Marcos Samerson / We love photo!

©2019 Marcos Samerson / We love photo!

DJ MAG BRASIL: O mercado da música popular brasileira está com novos talentos a cada dia. Você lançou também remixes para “Leve” da Mahmundi e “Fica Tudo Bem”, do Silva com a Anitta, além da produção de “Vambora”, da Priscila Tossan, que é uma regravação de uma música da Adriana Calcanhoto. Quais os novos artistas da música brasileira você tem acompanhado?
Letrux, Mahmundi, Iza, Priscilla Tossan, As Bahias e a Cozinha Mineira, Jade Baraldo e obviamente a eterna Anitta, desde a música “Meiga e Abusada”, são as minhas preferidas.
DJ MAG BRASIL: Estamos vivendo um momento bem complicado no mercado da música, de shows e eventos por conta dessa pandemia mundial. Ao mesmo tempo, estamos vendo diversas lives e festivais online a cada semana desde que estamos de quarentena, de praticamente todos os gêneros musicais. O que acha que vai mudar quando isso passar, ou pelo menos quando acalmar?
Estou adorando as lives. É muito bom ver que o bicho homem não dorme em serviço e sempre se reinventa. Por outro lado, acho que as boas mudanças que esperamos que só vão acontecer se essa quarentena durar o suficiente a ponto de entrar na cabeça de todos, pois ainda há alguns que não entenderam. Botar data para acabar é absurdo, e tem gente que acredita nisso. Esses, não vão crescer com a experiência. Adoraria que o ser humano percebesse que precisamos ser mais fraternais, mais sensitivos, mais cordiais e mais… humanos, né?
DJ MAG BRASIL: Em um post seu nas suas redes sociais, você disse que as pessoas chamam de quarentena o que você sempre chamou de “studio time”. Como estão sendo esses dias de “studio time” pra você desde que decretaram o distanciamento social?
Com exceção das gigs canceladas somadas ao cancelamento prévio do verão europeu que é sempre valioso para o meu trabalho, o dia-a-dia semanal é o mesmo. Moro a 150 passos do meu estúdio e fico indo de casa pra lá e dali pra casa. Não mudou muito. Aproveito para criar mais e sem a preocupação de compromissos marcados. Música, música, música. Vivo para isso.
DJ MAG BRASIL: O Purple Disco Machine tocou recentemente seu remix não oficial (e fantástico) de “Don’t Stop ‘Til Get Enough” do Michael Jackson no Defected Virtual Festival (festival online da label) e em algumas gigs antes. Você o disponibilizou – além de outros remixes que você já produziu – na plataforma Bandcamp, e incluindo também os remixes de “Suit & Tie” do Justin Timberlake e “I Feel Love” da Donna Summer, que particularmente, gosto bastante. Qual desses remixes você mais gostou de fazer?
Gosto muito desse “Suit & Tie” porque fiz apenas brincando e testando, e a resposta de público foi sobrenatural. Todo mundo ama, e o som ficou excelente. Às vezes os astros estão em conjunção quando você está fazendo um mix e coisas assim acontecem. Porém o de maior aprovação global foi mesmo o remix de “Don’t Stop ’ Til Get Enough”. Incrivel como essa música resiste ao tempo.
DJ MAG BRASIL: E o que você acha do Bandcamp, uma plataforma que é muito utilizada no exterior e pouco falada no Brasil, comparando-o com outros players como Spotify, Soundcloud ou Youtube, por exemplo?
O Brasil só conhece o que o vizinho dele conhece e disser que é bom, e fica esse ciclo vicioso sem fim. Veja bem. O site Bandcamp não tem absolutamente nada a ver com os outros citados. É um site de compra e venda de música e objetos ligados a ela, como vinis e até 7-inches. Os outro sites são somente de streaming. O lance do Bandcamp é simples: em 5 minutos você se registra e cria sua página. Em segundos sobe o que quer vender e em 10 minutos totais você já está no jogo, e com sorte e trabalho, recebendo em conta. Não tem frescura e nem muita pergunta, eles pagam direto através do seu Paypal, descontam pouco e a visualização mundial é gigante. Melhor impossível. Confiram minha página lá: www.djmeme.bandcamp.com
DJ MAG BRASIL: Em 2016 você lançou no Rio de Janeiro um workshop de produção musical que foi muito comentado. Você pensa em fazer uma nova edição algum dia, ou em algum outro formato?
Se o povo tiver grana, eu faço. Custa muito botar um evento desses em pé, e eu só parei porque a crise atrapalhou tudo… Quer dizer, as crises! O Brasil é um país complicado até para quem é grande. O dificil aqui é se manter no jogo, pois quando você está dando certo… BANG! Um decreto do governo, uma crise, a subida do dólar, um susto qualquer acaba com tudo.


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