Em resposta ao calor, choro, estresse ou até mesmo aos exercícios físicos, as gotículas de suor ou lágrimas são liberados pelo corpo. Os fluidos viram matéria-prima nas mãos da designer britânica Alice Potts. O trabalho poético, no entanto, vai além do conceitual e da produção de novos tecidos. O resultado é um biomaterial que ganha destaque em peças do vestuário, acessórios e joias.

Vem conferir!

Giphy/@alicenapotts/Instagram/Reprodução

Tudo começou com experimentos para a tese de mestrado na universidade Royal College of Art, localizada em Londres, no Reino Unido. Com foco em construir algo inovador, Alice se deixou guiar pelos fluidos corporais humanos. Parte da pesquisa foi conduzida por questionamentos e construções sociais que relacionam as excreções como sinônimos de sujeira, nojo e repulsa.

Nas mãos da profissional, os líquidos liberados pelas glândulas sudoríparas são direcionados ao processo denominado cromatografia, que “cristaliza” o material. Além da estética proporcionada pelas “pedras”, a textura já foi usada em acessórios de moda incomuns.

Modelo com peças de suor
A pesquisadora têxtil Alice Potts usa suor humano em suas criações

 

Modelo com peças de suor
Entre os produtos desenvolvidos, estão joias

 

Modelo com peças de suor
Os brincos foram adornados com lágrimas cristalizadas

 

Modelo com peças de suor
Suas pesquisas abordam o uso do suor e de outras secreções humanas


A ideia

Aos 26 anos, a designer e pesquisadora têxtil contou ao portal londrino Wired que teve a ideia para a pesquisa após observar as gotas de suor sob seu top de academia, durante a atividade física. “Eu estava tipo ‘Oh, meu Deus, você consegue imaginar se isso pudesse crescer e tomar novas formas ao invés de só ser absorvido pela minha roupa rapidamente?’”

Suas primeiras peças ganharam destaque na exposição da Bienal de Atenas, em 2018. Por lá, sapatilhas de bailarina, chuteiras e saltos viraram obras de arte ao serem adornados com os cristais. Ao longo de sua trajetória, a artista apostou em outros produtos, como bolsas, luvas e até joias, todos criados a partir do biomaterial.

“Eu amo esportes, são uma parte gigantesca da minha vida. Quando você transpira, seu corpo produz endorfina, e é ela que te proporciona essa felicidade, impossível de replicar de outra forma. Então, eu vivia para suar. Quando eu estava pensando no que desenvolver a respeito de biomateriais, comecei a me dar conta de que, para ser uma designer de sucesso, você precisa ser fiel a quem você é”, contou Alice Potts em entrevista à Elle.

Modelo com peças de suor
Em 2018, as peças ganharam destaque na Bienal de Atenas

 

Modelo com peças de suor
Por lá, sapatos de saltos foram expostos

 

Modelo com peças de suor
Sapatilhas de balé

 

Modelo com peças de suor
Seguindo a linha do esporte, chuteiras também foram adornadas com o biomaterial

 

Como funciona

Para produzir a matéria-prima usada nos estudos, Alice coleta fluidos de terceiros. Inicialmente, cada atleta voluntário recebe uma peça de roupa para se exercitar. Em seguida, as vestes são recolhidas, e o excesso de suor que permanece no corpo é aproveitado com uma toalha de microfibra.

O próximo passo é o início do processo de cristalização, em que a designer reaplica o líquido absorvido pelas toalhas. A partir de então, as semelhanças nas estruturas moleculares permitem que os cristais se formem.

Agora, a designer pretende explorar diferentes aplicações de suor. Segundo suas pesquisas, as estruturas podem manipular o tecido além da estética; por exemplo, alterando a flexibilidade das tramas.

Como ex-tenista, ela também está interessada na inovação têxtil em roupas esportivas. “Você poderia ter materiais rígidos e, ao suar, eles se tornariam mais flexíveis, o que permite mais movimento ao apoiar o corpo”, destacou.


Colaborou Sabrina Pessoa


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