São 18h em Seydisfjördur, no extremo leste da Islândia, e os flocos de neve no ar parecem um enxame cruel de insetos que chicoteia nossa pouca pele exposta. Caminhando com neve até os joelhos e lutando contra a nevasca branca logo acima, é praticamente impossível dizer onde o chão termina e o céu começa.

Há apenas um vazio uniforme à frente, como o estúdio de um fotógrafo que se estende até o infinito. É quase como se estivessemos numa espécie de purgatório, se o frio e tempo nítido não fosse uma realidade tão cortante.

10 minutos depois, dentro de uma modesta casa de madeira, uma mistura deslumbrante de um rosa quente com uma luz amarela exótica preenche nossa visão e uma seleção animadora de old skool disco começa a sair dos alto-falantes.

Os casacos da galera estão pendurados pelos cantos da sala e a única coisa branca e gelada na mente do pessoal reunido aqui é a deliciosa piña colada sendo bebida dos copos de coquetel.

Não, ainda não descobrimos como nos teletransportar e aparecer no Havaí. Esta é a Summer Feels Tour da Malibu, uma série de festas que leva a alegria do verão a lugares que precisam dessa vibe.

O inverno é um trabalho árduo. Em suas garras, nosso bem-estar tende a sofrer sob o peso de tardes escuras, temperaturas arrepiantes e até de Transtorno Afetivo Sazonal.

Este ano, Malibu decidiu que não precisa ser assim e resolveu alegrar a temporada com a Summer Feels Tour. A série de eventos começou em Glasgow acompanhada pela chuva, e depois foi para o norte, à beira da Islândia, privada de sol, antes de terminar na cidade de Winnipeg, no Canadá.

Levar festas com tema de verão para alguns dos locais mais difíceis do inverno no planeta é um empreendimento ambicioso. Inevitavelmente, nem tudo é fácil.

A primeira neve do ano está caindo sobre Londres, enquanto seguimos para Gatwick para participar da parte islandesa da turnê. É um sinal ameaçador no início da viagem e logo a má sorte começa a se acumular.

A mensagem desconcertante de “ATRASADO” está piscando ao lado do número do nosso vôo assim que chegamos ao aeroporto e, quando chegamos a Reykjavik com três horas de atraso, sem chances de pegar o vôo com conexão para Seydisfjördur.

Os céus de Reykjavik estão escuros e sombrios; no balcão de informações, notamos outro viajante ao telefone com um chefe distante explicando que a tempestade impede a volta para casa no tempo previsto.

Depois de encontrar uma cama para passar a noite e acionar o alarme para as 5h da manhã para pegar o primeiro vôo, é justo dizer que a diversão de verão está bem longe de tudo.

Mas assim que chegamos ao nosso destino e fomos para a festa a noite, nossa vibe rapidamente se transformou.

Seydisfjördur é o lugar ideal para receber uma injeção de energia do verão. A remota vila de aproximadamente 650 pessoas é cercada por montanhas, que bloqueiam a luz solar direta por quatro meses a cada ano.

A luz natural que o lugar recebe vem através da reflexão dos níveis abundantes de neve, que banham alguns locais com um tom azul místico. Não há dúvida de sua beleza, mas a variedade é o tempero da vida no inverno. E, como prova a festa de hoje, os locais apreciam a oportunidade de redescobrir o seu verão.

O inverno faz o possível para impedir que a festa apareça. O The Weaver Brothers, os principais DJs que vinham de Glasgow para a ocasião, são forçados a voltar para casa logo após o desembarque no aeroporto, quando as condições geladas forçam o único caminho para a vila a fechar.

A escala da nevasca do lado de fora e seu potencial de afastar as pessoas atraem alguns olhares nervosos dos organizadores durante os preparativos. Mas de alguma forma, tudo acaba dando certo.

Acontece que Sigga Boston, famosa por ter tocado a lendária boate Sirkus em Reykjavik até o seu fechamento em 2007, agora vive em Seydisfjördur, e foi chamada para substituir os DJs. Depois, às 19h, a galera começou a chegar.

Quando a festa começa a bombar, a entrada do Hotel Aldan fica parecendo uma espécie de portal entre dois mundos. Do lado de fora, as pessoas param seus grandes carros de neve com rodas monstruosas e tiram maçaricos robustos para acender cigarros nos ventos fortes.

No interior, uma calma projeção de piscina cobre a parede atrás do agitado bar, enquanto os mixologistas joviais servem uma variedade de saborosos coquetéis à base de Malibu. O aroma das frutas tropicais paira docemente no ar, e a pista de dança vai atraindo mais gente à medida que as pessoas começam a relaxar.

Outra idiossincrasia inesperada em Seydisfjördur é o lar da LungA School, uma faculdade de arte independente que atrai mentes inovadoras de toda a Islândia e além. Estudantes de arte ultra elegantes não são a clientela que esperávamos nesta comunidade isolada. Eles vêm em números, ao lado de residentes locais e um punhado de turistas ociosos.

A trilha sonora é otimista e eufórica, com seleções que incluem hits do Eurodance como ‘Rhythm Is A Dancer‘, e o clássico do synthpop do The Knife, ‘Heartbeats’. No início, percebemos uma divisão básica de gostos entre os grupos, mas gradualmente as barreiras sociais se dissolvem à medida que todos são varridos pela irresistível onda de verão.

Jogos de limbo surgem na pista de dança, infláveis flutuam pela sala e muitos aplausos rolam quando a galera consegue pegar anéis de borracha com o pescoço enquanto dançam. No bar, um trio de convidados toca um coro de percussão improvisada, batendo agitadores de coquetel de neon. Que vibe!

A energia casual e fluida que o verão costuma trazer e que também está fluindo pela festa é simbolizada por Saniya e Varun, um casal índio-americano que deveria estar explorando as florestas da Islândia essa noite, mas se encontrou preso em Seydisfjördur.

“Não esperávamos curtir uma balada hoje à noite, mas ficamos presos aqui por causa do tempo”, diz Saniya. “Mas”, ela acrescenta com um encolher de ombros feliz, “está tudo ótimo!”, antes de sair sorrindo com um flamingo rosa equilibrado em sua cabeça.

O inverno pode ter prendido eles em Seydisfjördur, mas a festa Summer Feels de Malibu fez com que se sentissem totalmente livres.

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