Depois de quase dois meses de espera e três tentativas frustradas, o cão de suporte Teddy finalmente embarcou para Lisboa nesta sexta-feira (30), ao lado do treinador Ricardo Cazarotte. O labrador, que presta assistência emocional à menina Alice, de 12 anos, é considerado essencial para a rotina e o bem-estar da criança, diagnosticada com autismo. A viagem foi realizada em um voo da companhia aérea TAP, com saída do Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro. A irmã de Alice, Hayanne Porto, também estava no embarque.
“Estamos com os bilhetes, estamos a caminho de Lisboa, para levar o Teddy para a Alice. Eu agradeço de coração toda a ajuda que a gente teve desde sábado, num contexto de muita dor, muito estresse. Estamos satisfeitos que, nesse momento, conseguimos solucionar essa questão. Mas, não pode deixar um direito ser violado”, declarou Hayanne, ao g1.
Mesmo com o embarque autorizado, ela explicou que só vai respirar aliviada ao chegar em Portugal e ver Teddy novamente com a irmã: “Até a gente embarcar, sentar na aeronave e desembarcar lá, o coração vai estar batendo mais forte. Ela passou a semana inteira me procurando e procurando ele pela casa. Agora a gente vai concluir isso”.
Ricardo Cazarotte, responsável pelo treinamento de Teddy, veio de São Paulo especialmente para a missão: “A gente que treina sabe a importância desse cão. Já deve estar desencadeando várias crises. Se você tira o autista da rotina dele, desencadeia agressividade, ansiedade. Meu papel aqui é fazer esse encontro, fazer ela feliz e ele também”.
Alice está em Portugal desde o início de abril, acompanhada da família, que se mudou para a Europa por conta de uma oportunidade profissional do pai, o médico Renato Sá. Desde então, a ausência do cão tem causado episódios de desregulação emocional na menina. Teddy foi treinado ao longo de um ano e meio para prestar suporte durante possíveis crises e se tornou parte fundamental da rotina da pequena.
A autorização para o embarque do animal veio após negociações com o Ministério de Portos e Aeroportos. De acordo com a legislação e com o manual da companhia aérea, apenas o treinador e a criança assistida podem viajar com o cão dentro da cabine. Como Alice já está em Lisboa, Cazarotte foi quem assumiu a tarefa.
As tratativas para o envio do cão começaram no início da semana, mas a tentativa de levar Teddy para Portugal se arrastava desde o dia 8 de abril. A primeira negativa aconteceu quando a TAP alegou, no momento do embarque, que a passagem de Teddy havia sido cancelada devido à documentação do animal não estar em conformidade com as exigências do destino.
Na segunda tentativa, em 24 de maio, Teddy seria levado por Hayanne, que tinha em mãos uma ordem judicial e todos os documentos exigidos anteriormente pela companhia. No entanto, a TAP recusou o embarque alegando que, como o cão não estava acompanhando a pessoa para quem presta assistência, ele não estava em serviço. Por isso, deveria ser transportado no compartimento de bagagens — algo recusado pela família, que alertou para os riscos envolvidos nesse tipo de transporte. A empresa argumentou que seguir com o embarque violaria seu manual de operações e colocaria em risco a segurança do voo.
Ainda no dia 24, uma terceira tentativa também foi frustrada. Hayanne e Teddy estavam prontos para embarcar no voo das 20h25, adiado para 23h45. No entanto, antes mesmo do embarque, a TAP conseguiu uma liminar que autorizava a decolagem sem o cão e a irmã de Alice. Outro entrave foi o prazo do Certificado Veterinário Internacional (CVI), que venceria em 25 de maio, o que inviabilizaria a entrada do animal em Portugal mesmo que ele conseguisse embarcar.
Diante da repercussão do caso e da mobilização nas redes sociais, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, interveio e se comprometeu a resolver a situação. Em caráter emergencial, todos os documentos necessários foram atualizados, e o treinador viajou de Ribeirão Preto (SP) até o Rio de Janeiro para encontrar Teddy e embarcar com ele para Lisboa. Depois da missão cumprida, Cazarotte deve retornar ao Brasil.
O treinador, que já foi responsável pelo canil da Polícia Militar de São Paulo antes de se aposentar, atualmente trabalha com o treinamento de cães de assistência, incluindo animais preparados para detectar doenças de forma precoce. No caso de Teddy, a missão é clara: garantir a estabilidade emocional e a segurança de Alice.
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