DJ e produtor paulista estreou recentemente pela americana Hijacked Records Detroit

por Lau Ferreira

Nascido em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, mas criado em Passos, Minas Gerais, Alan Nascimento Bernardes não começou cedo sua carreira na música eletrônica, mas isso não o impediu de batalhar por seu espaço e, gradualmente, começar a se destacar. DJ desde 2010 e produtor desde 2014, deu seus primeiros passos em outra cidade mineira, Ouro Preto, onde começou a se envolver com a produção cultural local. A partir de então, passou a assinar como Alan Becker.

Hoje, aos 39 anos e morando em Campinas–SP, reflete seus três grandes pilares musicais — soul, funk e disco, que aprendeu a amar desde muito criança, em grande parte, graças à sua mãe — em combinações de house e techno. Suas tracks costumam ser banhadas na estética crua de Detroit, cidade de origem do techno, com um pezinho em Berlim, a outra grande referência mundial no que diz respeito ao gênero.

 

Ainda assim, seu som não pode ser classificado como simplesmente “old school”, ou retrô. Como ele mesmo enfatiza, sempre está de olho nas sonoridades mais vanguardistas, na busca por deixar suas crias com um frescor contemporâneo ou futurista. Graças a sua ousadia por trás das cabines e coesão na mixagem de tracks, mesmo que de estilos diferentes, acabou fazendo certo sucesso e abrindo caminhos no interior de São Paulo, tornando-se residente do coletivo Undercurrent, da cidade de Americana. 

“Passo por experiências mais lo-fi, dub e deep, se for um warm-up, até um techno raw para momentos de mais energia. Provavelmente vai ter muita coisa de Rick Wade, Djbali, Moodymann, Cinthie, Antwon Faulkner, Delano Smith, DJ W!LD, Max Underson, Fellipe Octavio, 1811, Rene Breitbarth e Grad_U“, explica — sem deixar de citar nomes como DJ Mau Mau, Cashu, DJ Marky, Cinthie, Derrick Carter, Carl Cox, Carl Craig, Mark Farina, Cassy, Kevin Saunderson, Kerri Chandler, Aninha, Marcio S e Paula Chalup como nomes em que se espelha para a arte da discotecagem.

Lançando músicas de maneira oficial há seis anos, foi nos últimos dois ou três que passou a colher mais destaque — algo que deve vir a rolar com ainda maior frequência. Seu release mais recente saiu na última segunda-feira, 31, com um EP por um selo baseado na cidade-berço do techno: Hijacked Records Detroit. O disco traz duas faixas originais que mostram bem a assinatura minimalista e profunda das músicas de Becker, mais um remix do headlabel Antwon Faulkner (citado acima como uma de suas fontes musicais).

“Eu terminei as tracks no início de 2020, mas não sabia muito bem onde elas poderiam se encaixar. Meu processo criativo é livre, fluido. Primeiro faço a música e depois procuro onde lançá-la. Isso expande o meu lado artístico/criativo. No início de 2021, foquei em encontrar um label que contivesse uma estética sonora que eu procurava, e coincidentemente tinha esse DNA de Detroit”, conta Alan.

[Confira o EP no Beatport]

“Encontrei a Hijacked Records Detroit, que eu não conhecia — mas conhecia o Antwon Faulkner. Enviei um link para ele e disse um pouco sobre mim e as duas faixas. Ele gostou e me pediu os stems da ‘Learning Machines’ para fazer o remix e as demais para a masterização”, complementa.

O brasileiro soma ainda releases por gravadoras como a italiana Recycle Records, por onde fez sua estreia internacional em 2017, com o EP “Soul Recovered”; a colombiana DTL Records, que trouxe ao mundo o seu “Systemic EP”, no ano seguinte; e as brasileiras Paunchy Cat, de Maurício Um (em que teve participação na coletânea “Black Files III”, ainda em 2015), e Grooveland, pela qual participou de outras duas compilações entre 2018 e 2019. Ainda assim, a maior parte de suas tracks saíram pelo seu próprio label Lola Freak Records, que vem desde 2015 promovendo outros artistas independentes do cenário nacional.

“Tenho o sentimento de que ainda é preciso mostrar algo que ninguém mostrou. O que eu pretendo é emocionar o máximo de pessoas possíveis com música. Pode parecer simples, mas é um grande desafio. Eu quero provocá-las! Acho que a arte tem esse papel de transformar essas emoções em reflexão e atitude. Grandes acontecimentos da nossa humanidade tinham sempre relevantes movimentos artísticos”, conclui Alan Becker.

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