A autora do crime que matou Ana Luiza Neves, de 17 anos, ao envenenar um bolo de pote, teria adotado o mesmo modus operandi anteriormente. O “Fantástico” deste domingo (8), revelou um perfil falso criado pela jovem ao enviar um doce igual para outra adolescente. Ela recordou o susto à reportagem, enquanto o pai da vítima revelou que a autora era amiga de sua filha e frequentava a casa deles.
Kamilly, também de 17 anos, foi a primeira vítima e tinha sobrevivido a uma situação semelhante apenas 15 dias antes. Ela recebeu uma entrega no trabalho, e o motoboy pediu a confirmação de um código que chegou por SMS. “Eu fui pegar o celular para ver se alguém da minha família tinha mandado, aí chegou o código. Entreguei pro motoboy e recebi a encomenda”, contou.
Não demorou para Kamilly receber mensagens de um perfil falso, identificado apenas como Eduardo, dizendo que tinha lhe enviado uma encomenda. “Se chegar algum presente aí, é pra você (risos)“, informava a mensagem. A adolescente comeu o bolo e logo passou mal. “Fui perdendo minhas forças, fui sentindo calafrios, ficando gelada”, recordou.
A mãe, Kátia Miranda, foi às pressas para o hospital. “Cheguei gritando: ‘Minha filha foi envenenada!’. Exames detectaram uma substância anormal no organismo, mas não foi possível identificá-la, porque o bolo já havia sido consumido. A gente jogou o pote fora. O lixeiro já tinha levado”, explicou.
Na época, a família não registrou ocorrência pela falta de provas. Porém, ao saber do caso de Ana Luiza, decidiu falar. “A partir do momento que uma jovem perdeu a vida, eu falei: ‘Ká, não podemos ficar caladas. Foi uma vida’”, declarou Kátia. Ambas as vítimas receberam bilhetes parecidos de um “admirador secreto” junto ao bolo de pote, comprado na mesma loja e envenenado por trióxido de arsênio posteriormente.
Ao final, Kamilly, que ainda se recupera, lamentou a morte de Ana Luiza. “Infelizmente, eu e ela não tivemos o mesmo destino. É muito triste saber. Somos jovens, muitos sonhos pela frente. Infelizmente o dela acabou por ali”, pontuou.
Mesmo modus operandi
O delegado Vitor Santos e Jesus disse ao dominical que a polícia cruzou as informações dos dois casos. Sendo assim, chegaram ao motoboy que entregou os pedidos, e levou os agentes até o endereço onde pegou o doce. No local, vivia uma família com três filhas e uma delas coincidia com a descrição fornecida.
A adolescente foi levada à delegacia com a mãe após o entregador reconhecê-la imediatamente. “Não teve nenhuma sombra de dúvida em afirmar que ela era a mesma pessoa que havia entregue o bolo”, afirmou o delegado. “O modus operandi, os fatos, aconteceram da mesma forma (…) Conversando com a adolescente, ela acabou por admitir a autoria dos dois fatos. Mas em nenhum momento demonstrou um grande arrependimento”, acrescentou.
A jovem confessou o crime, alegando ter agido por ciúmes e que desejava apenas que as vítimas passassem mal. Ela ainda disse estar enfrentando problemas psicológicos e que “não conseguiu controlar os impulsos”. Conforme o dominical, a mãe da autora se abalou com a situação. “Ao se deparar com a mãe chorando, ela também entrou em prantos”, destacou Vitor.
Também ao “Fantástico”, o pai de Ana Luiza, Silvio Ferreira das Neves, expressou sua indignação. “Quando a investigação chegou ao autor do crime, eu não acreditei. Achei que fosse outra pessoa. Essa menina vinha pra cá, comia, dormia, usava as maquiagens das minhas filhas, roupa“, recordou.
De acordo com Silvio, adolescente tinha dormido na casa da filha no final de semana em que tudo aconteceu. “Ela viu minha fila vomitando, passando mal. Quando minha filha desmaiou, ela estava aqui. No pronto-socorro, [quando] chegou o diagnóstico da morte da minha filha, ela estava aqui. Ela me abraçou e falou: ‘Tio, vai ficar tudo bem’. Ela é fria. Cruel”, acusou o pai.
Ele ainda fez um desabafo após a perda de Ana Luiza: “Minha filha era… ela era tudo (…) Eu continuo perguntando: por que tanta crueldade? A pessoa consegue coisa ruim tão fácil, acessar uma substância tão perigosa pra envenenar os outros”.
A adolescente confessou os dois envenenamentos na delegacia de Itapecerica da Serra, cidade onde o crime foi cometido. Ela está internada na Fundação Casa e, por ser menor de idade, pode cumprir até três anos de reclusão.
Já o Ministério da Saúde declarou, em nota, que está prevista a implantação de uma linha de cuidados para pessoas intoxicadas até 2030. A decisão ocorre diante do fácil acesso ao veneno no Brasil, além da escassez de antídoto para intoxicação por arsênio.
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