“Momentum” conta com três originais e um remix de Dub Recycle

*por Lau Ferreira

Os tempos são trágicos e nebulosos, mas há também novas tendências a serem celebradas, apesar dos pesares. A pandemia forçou (ou ao menos, deveria forçar) geral a ficar em casa, e, de maneira empírica, podemos notar que há uma crescente considerável de novos projetos interessantes surgindo, assim como novas gravadoras e, claro, muita música boa — o que parece ser resultado de um foco natural para os estúdios, já que as pistas estão interditadas. 

Na seara do techno melódico, a Prototype tem sido uma plataforma importante para abrir espaço a novos talentos. E definitivamente é o caso com o duo catarinense Ark of Mind. Naturais de Itajaí — e místicos sem revelarem os nomes por trás — formaram o projeto no final de 2020 e entregam agora seu primeiro lançamento oficial com o EP “Momentum”. 

O disco reúne três originais — “Momentum”, “Solaris” e “War Breath” — e mais um remix do experiente Dub Recycle para “Solaris”, sendo um cartão de visitas até surpreendente pela qualidade e potência que o Ark of Mind consegue entregar já de cara. Com batidas graves e poderosas, sobreposição de melodias através de synths e pianos densos e um break absolutamente tocante, que contrapõe com beleza e suavidade o senso de urgência e ação que predominam na track, a faixa-título é, de longe, a melhor das três músicas que a dupla entrega aqui. E se chamar a atenção logo nas primeiras notas é positivo, por outro lado, trazer o clímax logo de cara pode ofuscar o que vem depois.

Diferentemente dela, “Solaris” não chega com o pé na porta, mas com um riff melódico hipnótico — remetendo a um encantador de cobras — que precede a aura de mistério e, posteriormente, de esclarecimento que vai dando o tom ao longo dos mais de oito minutos de musicalidade. 

Espacial, “War Breath” mantém pegada similar: é muito mais sobre melodia e “prosa” de sintetizadores do que kick e bass. Ao ouvi-la de olhos fechados, evoca o clássico cenário cyberpunk de distopia futurista protagonizada por andróides (alô, “Blade Runner”!), em movimento não épico, mas ainda assim aventureiro e, por que não?, alegre, carregado de otimismo. Suspiros profundos e sofridos acompanham o som do começo até o final.

Por fim, o remix de Dub Recycle deixa “Solaris” mais robótica, caótica e industrial, ainda que dentro do contexto do techno melódico, mantendo as melodias da original presentes.

Ainda é cedo demais para qualquer tipo de afirmação mais assertiva, mas tomando este disco como base — e principalmente sua faixa-título —, parece que a Prototype pode vir a se orgulhar no futuro de ter apostado suas fichas no Ark of Mind.

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