Anna Tur vem de uma família onde radio está no DNA. Seu pai fundou diversos projetos de mídia ao longo do tempo, entre eles a Ibiza Global Radio.

Um verdadeiro visionário que, junto com sua esposa (e mãe de Anna), jornalista e apresentadora de radio, criaram Anna em meio às Radio Stations, que acabaram se transforando em seu lifestyle, sua paixão.

Após 16 anos como CEO da Ibiza Global Radio, Anna decidiu seguir seu próprio caminho, suas próprias crenças e filosofia de vida, levando junto toda sua experiência e know how do radio business e da música.

Você vai conhecer um pouco de Anna Tur, uma artista e empreendedora completa, que tem muita história e uma longa e interessante trajetória pela frente.

Em 2020, enfrentamos uma das temporadas mais complexas dos últimos anos, como você vem lidando com essa situação?

Eu consegui lidar bem com essa realidade durante o tempo todo, mas para ser honesta, meu estado atual é de desamparo.

Depois de passarmos por um lockdown muito duro, ter feito de tudo no quesito responsabilidade social para salvar o maior número de vidas possível, sacrificando empregos, empresas, indústrias … então o Governo e seus regulamentos não são aplicados para nos salvar desta grande crise.

Me sinto mal por ter respeitado tudo, mas vejo que isso continua cada vez mais e sinto a necessidade de voltar àquela vida de antes, de contato com a atividade humana.

Você é natural de Ibiza, qual é a atual realidade da ilha e sua vida noturna?

O meu estado de indignação vem do fato de que precisamente nas Ilhas Baleares, onde fica Ibiza, fomos a única comunidade a cortar o lazer. Sem a possibilidade de adequar as medidas de segurança e saúde como em outras comunidades.

A vida noturna, a música e o entretenimento foram totalmente proibidos a partir de 15 de março, data em que entramos em Estado de Alerta. Curiosamente, nas Ilhas Baleares hoje, somos uma das comunidades com mais casos registrados [de Covid-19].

Estamos em um momento complicado, vendo os aviões comerciais, jatos particulares, barcos, iates … festas clandestinas em vilas e em grandes barcos, garrafas de champagne por toda parte.

As boates fecham, mas na rua não existe nenhum controle. Mas, claro, a culpa é sempre da vida noturna.

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Você acha que a atenção da mídia anda especialmente focada na vida noturna?

Se falarmos sobre mídia generalista, digamos que eles nos prestam um péssimo serviço. Eles apenas dão visibilidade aos comportamentos às vezes antivirais.

Coisas que podem acontecer também ao ar livre, no supermercado, nos centros comerciais não são notícia, mas são notícia quando acontecem na vida noturna.

O bom trabalho de muitas empresas da nightlife, que têm conseguido funcionar em muitas comunidades, cumprindo medidas de saúde e segurança, não vira notícia.

Como tem sido para você essa nova realidade? Do que você mais sente falta?

Eu realmente sinto falta da conexão com o público. Tive a sorte de fazer quatro boas apresentações no verão ([summer 2020], fora de Ibiza. Experiências maravilhosas!

Posso dizer que na minha última faixa do meu último set que toquei, terminei minha apresentação com lágrimas nos olhos de verdade…

À meia-noite, uma nova lei entrou em vigor proibindo a música após 1h. Aí mandaram encerrar e o meu companheiro Gonçalo não pôde nem tocar.

Ele fechou às 4h, horário de fechamento programado antes desta nova lei que surgiu da noite para o dia.

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Você acha que as instituições estão dando apoio suficiente ao setor?

Nenhum apoio!

Na verdade, o “DJ” neste país não é nem reconhecido como músico, então se você não é autônomo (às vezes artistas com pouquíssimas apresentações não podem assumir esse formato devido ao custo), não têm a opção do auxílio mínimo de desemprego.

Por que você acha que a vida noturna na Espanha nunca foi considerada cultura? Você tem esperança de que isso mude no futuro?

Sim. Nasce nesta altura a AEDYP, Associação Espanhola de DJs e Produtores que, entre outras coisas, lutará pelo referido bem como pelos direitos e deveres dos profissionais da música electrônica.

A Associação Espanhola de Empresários de Lazer também trabalha, mas recebe visibilidade nos meios de comunicação convencionais, já sabemos como funciona o assunto.

Bom, vamos deixar de lado essa parte e focar no presente. Você está passando por mudanças importantes na carreira. Como você se sente física, pessoal e espiritualmente?

Melhor do que nunca. Me sinto muito plena, forte, determinada, seletiva com as coisas e pessoas que têm que fazer parte da minha vida.

Eu só quero boas pessoas ao meu redor. Sinto que andaram absorvendo minha energia por muitos anos!

Você recentemente decidiu deixar a Ibiza Global Radio depois de 16 anos como CEO, uma decisão nada fácil, ainda mais se levarmos em conta que seu pai fundou a Radio. O que motivou essa decisão?

Existem cordas que não podem ser mais apertadas. Você tem que deixar as coisas fluírem naturalmente. Sou muito fiel às minhas crenças e pensamentos.

Nesse caso, me refiro ao funcionamento de uma equipe. Durante anos senti que dei todo o meu tempo e alma, mas não andava me sentindo confortável com o atual dono da estação (vendi a minha participação há pouco mais de 3 anos), ele não tinha “o mesmo feeling” comigo, talvez porque nossos ideais sejam diferentes.

Tenho respeito por ele como empresário, também como amigo e sócio do meu pai, mas quando meu pai partiu, tudo mudou. Foi uma mudança, que considero uma evolução natural, não sei … Não sei explicar muito bem.

Metaforicamente, eu poderia dizer que perdi a custódia de meu filho, mas um filho é amado até a morte. Posso garantir que ganhei qualidade de vida. Eu sei que meu pai do céu está orgulhoso de mim.

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A real é que não lhe faltam projetos. Você acaba de apresentar “On Air With Anna Tur”, seu novo formato de programa de rádio. Como surgiu a ideia?

Simplesmente porque “tenho uma coisa pelo rádio”… que está sempre lá!

Em que exatamente consiste o programa? O que você diria que é o seu motor filosófico e quais objetivos ou metas você deseja alcançar com ele?

Quero ficar em contato com meus ouvintes e fãs. Eles se comunicaram muito comigo desde que saí da Ibiza Global Radio e eu, tudo o que tenho, devo a eles. Faço esse trabalho por eles.

A competição é bem ampla, por que não podemos deixar de assistir o seu programa?

No programa procuro expressar meu interior, meus sentimentos.

Gravo no meu estúdio, quase sempre descalça, adoro tocar como DJ com os pés em contato com a terra, contar minha história através da session, mesclando trabalhos que as vezes recebo naquele mesmo dia, presente de amigos produtores e músicas que me levam de volta no tempo.

No programa, sempre falo espanhol e inglês, pois é veiculado em diversos países do mundo. Não posso fazer isso apenas em inglês, sou hispânica.

Sabemos que você terá como convidados diversos artistas internacionais. Você pode nos dar algum nome com antecedência?

Todos aqueles que de uma forma ou de outra estão ligados a mim eu pretendo convidar. Vou convidar muitos nomes legais, hehe! Espero ter sorte! 😉

Você também faz parte do IMA (Ibiza Music Artists), uma plataforma que busca valorizar os artistas locais da ilha. Por que é tão difícil apostar no talento nacional?

Agora denominada IMA – Ibiza Music Agency – o projeto oferece serviço completo para artistas e marcas.

Atualmente a competitividade é tanta e o setor está tão profissionalizado, que é preciso ter as ferramentas necessárias para uma boa divulgação e evolução do artista.

Desde a atualização de filmagens a um bom logotipo, campanhas promocionais, imprensa, realização de programas de rádio e/ou podcasts, produção de música, distribuição, entre outros.

Cuidamos de tudo junto com aqueles que consideramos os melhores que conhecemos neste setor.

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Que medidas ou ações você acha que a indústria deveria tomar para acabar com esses obstáculos?

Os artistas da ilha são puro talento e referência do som Balear. Eles devem se unir e lutar pelo lugar que merecem.

Cada vez mais, e graças aos hotéis-conceito e beach clubs, vejo que os artistas residentes da ilha andam indo bem. Nos clubs, normalmente são os promoters que programam a noite do início ao fim, portanto as possibilidades são menores.

Os tempos difíceis são bons para empreender e se aventurar? Você acha que talvez haja muita estagnação no setor?

Acho que para um empresário a crise é uma oportunidade. Você tem que ser corajoso, ser inteligente e trabalhar muito. É um desafio, você tem que arriscar, senão corremos o risco de ficar na estrada.

Que aspectos positivos e lições você acha que podemos tirar da situação atual?

Essa é uma oportunidade de nos tornarmos pessoas melhores.

Realmente, estou preocupada em ver muita gente em tom agressivo nas redes sociais, na rua, em algumas lojas.

Não gosto de ver que algumas pessoas estão revelando o que há de pior nelas.

E para finalizar, o que você pode nos contar sobre seu futuro próximo? Algum outro projeto em vista?

Sim. Estou trabalhando no projeto em que quero me dedicar até eu me aposentar, e junto com meus colegas que estão atualmente juntos nesta nova aventura.

Não estou com pressa, todos os passos serão sólidos e bem pensados. É um romance, uma nova história de amor.

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