O primeiro dia do julgamento de Paulo Cupertino, acusado de assassinar o ator Rafael Miguel e os pais dele, João Alcisio e Miriam Selma, em junho de 2019, foi marcado por depoimentos emocionados, denúncias de violência doméstica e até um desabafo do juiz. A audiência começou às 11h desta quinta-feira (29), no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, e se estendeu até as 22h30. A sentença deve ser anunciada ainda nesta sexta (30).
De acordo com o UOL Splash, sete jurados, sendo quatro homens e três mulheres, compõem o júri popular. A etapa final do julgamento – dedicada aos debates entre acusação e defesa – começou às 10h desta sexta.
Isabela Tibcherani, filha de Cupertino e ex-namorada de Rafael Miguel, foi a primeira a prestar depoimento. Ao relembrar episódios vividos com o pai, ela o descreveu como uma figura violenta e afirmou ter presenciado diversas agressões contra a mãe, Vanessa Tibcherani: “Ouvi muitas coisas. Em determinado momento, minha mãe (Vanessa) tentou sair deste relacionamento e se envolver com outra pessoa. Ao descobrir, meu pai fez algo a respeito. Chegou até mim que ele matou esse cara”.
Emocionada, Isabela chorou ao citar o irmão mais novo, Tadeu, de 19 anos, e revelou os impactos emocionais que carrega desde o crime: “As pessoas acham que eu falo disso com naturalidade, mas não sabem quantos remédios eu tomo contra a ansiedade e a depressão”.
Vanessa Tibcherani também prestou depoimento e reforçou os relatos de agressão. Segundo ela, durante o relacionamento com Cupertino, sofreu sete fraturas nas costelas e quatro no nariz. “Ele assassinou três pessoas a sangue frio. Ele seria capaz, pois me bateu a vida inteira. Imagina o que ele faria com estranhos?”, disse, ao júri.
Camila Miguel, irmã de Rafael, e Maria Gorete, tia do ator, também foram ouvidas como testemunhas de acusação. Ambas reforçaram que a família vivia em paz e que não havia qualquer ameaça ou inimizade antes da tragédia.
Pela primeira vez desde o crime, Paulo Cupertino prestou depoimento oficial. De acordo com o Splash, ele estava visivelmente nervoso. O acusado chegou a questionar a condução do processo e apontou falhas que, segundo ele, prejudicaram sua defesa. “Nunca existiu um crime premeditado da minha parte. Eu não estava armado no dia dos fatos. Basta me mostrar uma imagem para provar. Eu sei que seria capaz de coisas piores para defender a minha família. Meu depoimento não é ensaiado, não preciso de script”, declarou.
Durante seu interrogatório, Cupertino chegou a interromper a sessão para ir ao banheiro. Na volta, tentou fazer uma piada: “Que bom que você não me viu fazendo xixi”, disse ao juiz Antonio Carlos Pontes de Souza. A resposta do magistrado foi um desabafo: “Nessa altura do campeonato… Só me faltava uma porr* dessas”.
Outra ex-companheira de Cupertino, Maria Carvalho, também foi chamada para depor. Diferente dos demais relatos, ela afirmou que nunca sofreu ou presenciou qualquer ato de violência por parte do réu durante os 20 anos de relacionamento que tiveram: “Nunca me senti ameaçada pelo Paulo. Ouço tantas coisas, e tenho certeza que aumentaram. […] O que eu via na TV não tinha relação com a pessoa que convivia comigo”.
Em vários trechos do julgamento, Cupertino ignorou o protocolo, chegou a se desculpar com o juiz e com os jurados, dizendo que aquele era “seu momento, depois de seis anos”. Segundo a CNN, ele se levantou, virou-se para o plenário e direcionou suas falas ao público, tentou conversar de forma informal com o magistrado. Ainda de acordo com a emissora, ele teria provocado os promotores, atacado o advogado de acusação Fernando Viggiano e até questionado sua própria defesa.
A ação ainda contou com os depoimentos de dois réus acusados de ajudar na fuga de Cupertino: Wanderley Antunes e Eduardo Machado. Ambos afirmaram ter sido coagidos e disseram que mantinham uma relação de amizade com ele antes do crime. Wanderley foi responsável por levar Cupertino até uma rodoviária na noite do triplo homicídio. O réu ficou foragido por três anos, até ser preso preventivamente em 2022.
Veja a lista de testemunhas e réus que falaram nesta quinta:
Paulo Cupertino Matias – Réu preso
Wanderley Antunes Ribeiro Senhora – Réu
Eduardo José Machado – Réu
Isabela Tibcherani Matias – Filha de Paulo Cupertino e testemunha comum
Vanessa Tibcherani de Camargo – Ex-mulher de Paulo Cupertino e testemunha comum
Camila Patrícia Miguel – Irmã mais velha de Rafael Miguel e testemunha comum
Maria Gorete Silva Carvalho – Tia de Rafael Miguel e testemunha de acusação
José Vitor Silva – Tio de Rafael Miguel e testemunha de defesa
Maria Quitéria da Silva – Ex-esposa de Paulo Cupertino e testemunha de defesa
Angela Evangelista de Souza – Amiga de Wanderley Ribeiro e testemunha de defesa
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